sexta-feira, 1 de junho de 2007

O Piadista

Olhaê a gente de novo! Boa noite, pessoal!
Ainda não sei se eu deveria continuar dizendo "boa noite". Quer dizer, tecnicamente falando, eu não sei a que horas vocês acessam aqui, certo? Ou melhor, até sei, mas só fico sabendo depois que vocês acessaram =D

Ah, seja lá como for - eu tenho que terminar isso rápido, quero acordar cedo amanhã. Get up offa that thing!

MANUAL MODERNO DO MANO METROPOLITANO
O Piadista

Rir, ditado antigo já profetizava, é o melhor remédio. Tá, tá legal, talvez não o melhor, mas um dos mais gostosos. Eu não sei explicações biológicas para a risada e, francamente, prefiro não saber, porque me contento em saber que sei rir. Agora, na minha humilde opinião, tão importante quanto rir é fazer rir. Claro, qual é a graça de se ser feliz sozinho? Se você, por exemplo, for demasiado feliz sozinho, as outras pessoas ficarão incomodadas. Qual é o ponto em ser feliz, então?
Pensando nisso, um grupo de sociólogos, filósofos, geólogos e nutricionistas da Antiga Grécia se reuniram e concluíram que a saída era, realmente, fazer a piada. Um prático instrumento em que o bom-humor pode ser transmitido, praticamente sem custos, para os outros, e esperar deles uma resposta bem-humorada de volta. "A doença contagiosa que vale a pena pegar!", diziam os slogans da época. Pois bem.
A prática da piada está bastante arraigada entre nós, humanóides. Acontece que, devido a falhas congênitas, problemas mentais, desastres naturais e problemas de retardados mal-amados, nem todos têm em mente algumas básicas idéias ao participar de um dos atos interpessoais mais antigos da humanidade, ao lado do pum no elevador e do "pedala, Robinho!". Como contar uma piada? Como ouvir uma piada? Adianto-lhes: é bastante simples.

Suponhamos que você, agradável leitor - aliás, agradeço pela sua atenção dispensada - esteja a fim de contar uma piada. Que piada contar? Qual usar? Qual não contar? Quando contar o quê?
Antes de mais nada, lembre-se de conhecer seus interlocutores. Você não vai até a torcida do Corinthians pra gritar "chuuuuupa, gambá!!", vai? Então, lembre-se de não contar de piadas de loiras se há alguma loira que fique ofendida, não conte piadas sujas entre damas (ou cavalheiros, sei lá) que fiquem enojados... Enfim, dê ao público o que eles querem ouvir. Conte piadinhas leves, piadinhas toscas, anedotinhas, coisas infames, fabrique piadas. O importante é fazer o cara rir.
Só seja tosco se a situação pedir. Pelo amor de Deus, não faça aquelas piadas ridículas que seus amigos de escola adoram na frente dos seus vizinhos, né? E, naturalmente, não espere que todo mundo venha a entender piadas mais eruditas. Na dúvida, mande a piada da última frase da banana suicida: "Macacos me mordam!". :D
Piadas foram feitas para serem engraçadas, não para serem estúpidas com os outros. Já basta todas aquelas piadinhas grosseiras e ofensivas que vemos nos filmes americanos, não acha? Então evite fazer piadas que ofendam, que rebaixem, que caçoem ou, de qualquer modo, que ataquem a imagem de uma pessoa, para a felicidade sua e de outros. Antes de mais nada, somos todos humanos. Pense que alguém pode estar falando mal da sua mãe, do seu pai. Você não iria gostar, iria? Eu não =)
E evite as Três Grandes Gafes do Piadista. Em alguns países, essas gafes podem ser o bastante para você ser condenado à cadeia. Quais são elas, meu Deus? Bem, tome nota.
Primeiro, nunca conte uma piada rindo. Eu sei que existem piadas realmente ótimas, e você não aguenta mais rir, e seu pulmão parece que vai sair, de tanto o esforço para respirar entre os risos. Mas se você quiser contar a piada, sente-se, conte até cinquenta - cem, se necessário - e verifique se você tem o controle restabelecido. Quando você começa a rir no meio da piada, você não só estraga seu desempenho, mas destrói metade do efeito-supresa embutido em uma piada. E pronto, você danificou uma parte considerável da sua piada. E falhou.
Segundo, não pare a piada no meio da narrativa. Se você quer contar uma piada, siga firme, siga direto, siga concreto. Piadas interrompidas, ainda que seja por algum motivo realmente digno de importância (digamos, um amigo seu o convidando para jogar truco imediatamente), se tornam desengraçadas, e à medida que o tempo do intervalo aumenta, mais graça ela perde. A graça decai exponencialmente se há bastantes interrupções na piada. Então, se te atrapalharam no meio de uma piadinha, mostre para esta pessoa que você a despreza terrivelmente por ela ter quebrado um ritual santo e sacro, e, se possível, reinicie sua piada. É possível que a terceira pessoa se interesse por ela também.
Finalmente, se você estiver com a periquita coçando para contar uma piada, tenha a plena e firme certeza de que você conhece o final da piada. Em nome de todas as 12 casas zodiacais, das 12 estrelas da União Européia, dos 12 testículos de Chuck Norris, não conte uma piada se você não se lembra do final dela. Antes de você começar a piada... não, antes de você cogitar a contar a piada, repasse-a mentalmente. Ela está inteira? Ela está engraçada? As pessoas que te interessam vão gostar da piada? Ótimo, cuspa-a.

Agora, não pense que não há indicações para quem ouve piadinhas. Sim, se você está prestes a ouvir uma piada, existem também considerações a serem feitas. Vamos a elas.
Como eu falei há pouco, piadas foram feitas para serem engraçadas. Então, quando existe um narrador em um processo de piada, a sua função, como ouvinte, é rir. É claro que o desfecho de uma piada pode ser muito variável e, às vezes, não rir é a coisa mais engraçada a ser feita. Mas não frustre seu amigo só porque você está com dor de dente, unha encravada, problemas familiares, time eliminado. Seus problemas pessoais são seus problemas pessoais, somente, guarde-os para você e para o corno que te pôs na merda. E dê umas risadinhas, de vez em quando. Você vai ver como vai melhorar o seu espírito, em especial.
Não estrague a narrativa de um piadista com um "nossa, me lembrei de uma ótima!", e acabando com o momentum do coitado. Rodas de piadas são civilizadas e pacíficas, e todos terão tempo de contar as suas. Se você não teve tempo de contar a sua, seja civilizado, e guarde ela para a próxima oportunidade. Você gosta de ser interrompido no meio da sua piada? Não? Então.
Sabe quando você acabou de ouvir uma piada ótima, e quer transmitir para o máximo de pessoas possíveis? Não pode esperar mais um minuto, questão de vida ou morte? E aí você chega para algum desagradável que, no meio da piada, diz "eu conheço essa piada". Frustrante, não? Além de ele não ter ganho em nada com isso, ele acabou de te aleijar pelo resto do dia. Então, bom rapaz e bela dama, ao ser inquirido por um grande amigo a respeito de uma piada, não seja desmancha-rodinhas, e finja ligeira ignorância sobre a piadinha em questão. Ria um pouco, mesmo que seja na atuação. Às vezes, ser um bom articulador social é saber quando falar o que todos querem ouvir, e quando falar o que ninguém quer ouvir. Você não precisa ser um diplomata para ser bom em negociação - treine com os amigos. Comece em sendo racional. Qual o problema em ouvir uma piada repetida? Seu amigo agradece.

O ato da piada é muito importante, não há sombras de dúvida. Ainda mais a gente, cada vez mais acostumados a contar piadas feitas na hora - talvez pelo Brasil ser o país da piada pronta. Saber um pouco sobre como dosar as piadas, bem como quando ouvi-las e quando rir delas. Muitas boas amizades têm grandes doses de risadas nelas. E piadas certamente ajudam a alimentar a alma humana. Ria você também. Nem que seja da sua própria desgraça. Afinal, pimenta no seu olho dói, mas já que caiu, mesmo, deixe pelo menos os outros rirem. =)

Ouvindo:
Part of the Queue
Oasis
Don't Believe the Truth (2005)

2 comentários:

Bola disse...

O primeiro item está errado. É ótimo contar piadas rindo! O cara que está ouvindo já começa a rir antes da piada começar, porque olha pra sua de palhaço e acha engraçada! É sensacional isso aí!

(...pena que eu não dou risada.)

Falou aê e valeu pela piada da banana! =)

Gaius disse...

Bom, eu não sou um piadista e aceito isso com toda a minha humildade.
Tenho a impressão de que seus textos no blog são mais fáceis de digerir do que os meus. Seria isso um fato ou uma impresão?