terça-feira, 31 de julho de 2007

Atraso

Hey hey, people! Todo mundo feliz? Que saudades agudas deste blog! E de vocês também! \o/

Antes de começar, aqui, pára tudo! Eu sei que é muito improvável que Vitor, meu irmão menor, venha a ler isto, mas ainda assim, acho justo. Meu maninho querido, que está ao meu lado desde que me deou por gente, desde que me lembro de fazer bobagens, completou na véspera deste dia seu décimo-oitavo ano de vida. Agora, entre outros, ele poderá ver filme de sacanagem, beber até cair, fumar, assinar suas dívidas e ir preso. Mas como ele nunca fez nada disso e - até onde sei - não pretende fazer tão cedo, ele vai descobrir que chegar à maioridade não é nada demais. Assim mesmo, foi mais um ano que meu irmão esteve ao meu lado, sendo o meu irmão que eu não escolhi, mas que escolheria de novo, sem a menor dúvida. Parabéns pra você, Vitor, meu irmão. Que você aproveite seu próximos anos às bicas. Amo você, bros. ^^
Ok, de volta a programação usual.

Esse título bem que poderia servir para a minha falta de freqüencia aqui no blog, não acham? Quer dizer, eu, nesta sanha minha de ser alguém na vida, praticamente abandonei as minhas raízes de inutilidade aguda aqui, neste blog, que tanto amo. Mas, ah, eu tomei vergonha na cara hoje, e estou furando uns 25 compromissos, incluindo um almoço importantíssimo com o Primeiro-Ministro Gordon Brown e uma rodada de discussão com proeminentes membros da economia liberal japonesa. Viram só, como sou importante?
Mas não. O "Atraso" em questão nada tem a ver com o fato de eu estar atrasado. E sim com o fato de eu ter me atrasado. Hoje. Sabe, quando tudo dá errado ao mesmo tempo? Os deuses conspiram cada mínimo detalhe para que um breve espaço da sua existência seja marcado por uma inexplicável concentração de imprevistos azarados? Pois é. É quando você está atrasado.

Contos do Cotidiano
VII - Atraso

Ele estranhou quando deu mais uma virada na cama. "Devo ter acordado bem cedo", pensou, enquanto tentava reencontrar o sono para dormir mais um pouco. Estava acostumado a ser acordado pelos seu despertador infalível e, quando este falhava, seus pais forneciam um insuperável backup, retirando-o de seu sono na hora correta. Aliás, correto até demais. Bem que eles poderiam deixá-lo atrasar alguns dez minutos, pô.
Não era de se suspeitar nada ao virar para o outro lado e notar que já havia acordado. As pessoas, dentro de uma certa rotina, costumam despertar mais ou menos no horário em que elas estão acostumadas. Mas ele acordou meio cedo, pelo visto. Dormiu demais? Estava descansado? Era o vento frio que o despertou, talvez? Nah, não era importante. Ele poderia voltar a dormir. Mais uns quinze minutos de cochilo, oras. E foi assim que aconteceu, Mais uns quinze minutos de cochilo.

Quando ele percebeu o que estava acontecendo, já havia passado tempo demais. Seus pais estavam pulando da cama com o rosto em pânico, gritando palavras ininteligíveis e, esporadicamente, berrando o nome dele. Uma sinfonia desajeitada ecoando o ar, como quando derrubam uma pilha de panelas no chão e a tampa fica barulhando por minutos. Abobalhado, sentou-se na cama, e olhou para os lados. "Sol? Não costuma ter sol na janela em Julho quando eu acordo. Estamos no Inverno. O que está acontecendo?". Eis que, maquinamente, ele vira-se ao infalível despertador. E onde deveria estar escrito 6h00 está escrito 6h45. Ele estava meio atrasado, afinal.
Antes de partimos para o desespero, vamos entender a rotina do protagonista. Ele acorda às 6h00, e vai para a cozinha aos trancos e barrancos, arrumar algo para comer. Ele toma café antes de seus pais, porque sai mais cedo. Quando já são 6h30, aproximadamente, ele já concluiu sua refeição, e vai ao chuveiro, pra ver se ele acorda na marra. Quinze minutos de uma tentativa sem sucesso, e ele veste suas roupas, disfarça o cheiro corporal com um desodorante e sai do seu reduto familiar às 7h00. Então ele tem quinze minutos para fazer o que ele faz em uma hora. Agora podemos imaginar que ele está em pânico.
"C***lho", estou atrasado!", grita, em meio aos gritos de seus pais, enquanto ele se joga de sua cama para se desvencilhar mais fácil do edredom. Lembrando que está frio do lado de fora, ele sai desabalado para o guarda-roupa para pegar uma blusa e um casaco. Seu pai saiu para comprar pão, e sua mãe foi para o banheiro tomar banho. Ele não come o pão que o pai busca, ele tem de sair mais cedo. Então ele foge pra cozinha, olha para os pães de forma e decide que quinze minutos não é lá tempo suficiente para passar manteiga no pão. Ele pega então uma caixa de leite e o Toddy e senta-se, às pressas, para tomar seu meio-café-da-manhã. Ele vira o leite na caneca, coloca as duas colheres e toma um gole. E ele quase vomita, porque ele não lembra de ter provado algo tão ruim em muitos anos. Ele olha pra caneca, e nota que os flocos estão com uma cor estranha... Ele cheira a caneca, e constata: a porra do leite azedou fora da geladeira. Ééééca, ele pensa, jogando a caneca na pia e desejando passar mal de propósito para tentar se desintoxicar. Ele se lembra de uma garrafa de Coca-Cola na geladeira e, vorazmente, agarra-a, e toma vários goles. Ele quer ter certeza de que o gosto da Coca vai inibir aquela sensação horrível de leite azedo, aquele gosto nojento, aquela cor de merda em pó... Que nojo!

Frustrado em tentar disfarçar o gosto de nhaca na sua garganta, nosso herói conforma-se com o azar de seu dia. Atrasado, sem pão com manteiga e com essa lembrança de ter virado aquilo na sua boca, ele sente-se derrotado. E vai para o chuveiro, afinal, para esfriar a cabeça. E acaba esfriando, mesmo. Deixaram o chuveiro no "Frio" ontem à noite, e esqueceram de voltar ao normal. Não é gostoso tomar uma ducha fria quando a temperatura é de 8º. Amaldiçoando a vida, ele desliga a porra do chuveiro e coloca o infeliz no lugar.
Depois de um banho relâmpago, onde ele nem pôde aproveitar a água quente, ele sai correndo para o quarto, caçando roupas. Acha lá uma camiseta que deve estar legal, uma calça que deve estar limpa, um par de meias que deve ser um par igual, roupas de baixo que ele reza que estejam limpas, e joga tudo na sua cama, para se vestir. Em tempo recorde de 1'35'', ele consegue estar vestido. Quando ele se olha direito, ele vê que a calça dele não estava limpa, tinha uma mancha de algum lugar, que ele não recordava. Frustrado, ele remove-a e coloca outra calça. Tudo bem, é a vida. Coloca os sapatos, arruma sua mala e vai até a mãe para lhe desejar um dia feliz, já que o dele não será, mesmo. É quando a mãe diz pra ele: "Filho, suas calças estão curtas". Ele olha pra baixo e vê seus tornozelos. Ele olha no relógio. 7h15. E responde "Ah, mãe, grande coisa". Ele sai correndo para o ponto de ônibus.

Em um dia normal, depois de pegar o ônibus que passa pela estação de metrô, ele desembarca, vai à plataforma e espera, em média, 90 segundos até o próximo trem, que está vazio o suficiente para que ele entre, e lotado o suficiente para que ele não tenha muito conforto. Mas é o suficiente. Mas hoje não é um dia normal. Ele vai ao ponto e constata, frustrado, que o ônibus de sempre já passou. Ele está uns vinte minutos atrasado. Enquanto ele está no ponto, ele se lembra do Teorema do Atraso, um teorema interessante, que merece nossa atenção agora.
Segundo uns estudiosos alemães e franceses, há uma correlação muito forte entre o seu tempo de saída do lugar de origem e o tempo de chegada ao lugar destinado. Teoricamente e logicamente falando, a proporção deveria ser de 1:1 - ou seja, pra cada minutos que você se atrasa para sair, é um minuto que você se atrasa ao chegar. Acontece que seja lá em que criou esta nossa realidade não ligava patavinas para sensos de lógica e razão, de modo que esta proporção é cruelmente desobedecida. A proporção é, normalmente, maior do que isso (ou seja, 1:2, 1:3, ou até 1:5, respectivamente um minuto pra dois, um minuto pra três e um minuto pra cinco). Quanto mais caótica a cidade, quanto mais terrível for o tráfico e mais azarado for o seu dia, maior a proporção será, provam estes estudiosos, por meio de cálculos realmente enfadonhos e chatos, que serão beneficamente evitados. Seja lá como for, podemos esperar que para vinte minutos de atraso ele não chegará no seu destino antes de meia hora, no mínimo, de atraso, certo? Azar. Amargo, amargo azar.

Embarcado no ônibus, ele remove de sua bolsa uma revista, que ele recentemente adquiriu e não pôde lê-la. Ele aproveita o tempo de viagens entre ônibus e metrôs para pôr a leitura em dia. Lendo ele esquece que é azarado, ele imagina. Mas só imagina. Porque lá vem a porra do azar dizer oi de novo. Desta vez, na forma de uma gota d'água em cima da página de sua preciosa revista, tratada com o maior dos carinhos. Quando ele, por reflexo, vira seu rosto em busca da fonte da gota, vem uma segunda. Ele defende-a no meio do ar, mas a terceira passa por entre seus dedos e atinge em cheio a página. Em fúria e em pânico, ele olha para o velhinho com cara de tapado, segurando uma sacola com um guarda-chuva molhado dentro, lá no alto do ônibus, acima da cabeça de todo mundo. Onde ele molhou o guarda-chuva é um mistério, porque faz uma semana que não chove. E porque alguém carregaria um guarda-chuva molhado acima da cabeça dos outros, é outro mistério sem resposta. Mas nosso amigo não pode ter um piti com o velho porque, afinal, ele é um idoso, coitado. Não podemos maltratar estes seres frágeis, estes senhores tão vividos, que viajam de graça às nossas custas e ainda nos desrespeitam, estes velhacos caquéticos filhos de uma... Opa, quase que ele diz em voz alta. Ele avisa ao senhor que a sacola dele está a gotejar, na esperança de que alguma providência seja tomada. Mas o vovô somente troca a sacola de mão. Derrotado, ele guarda a revista. Sem donut para nosso amigo. Coitado.

Chegamos à estação de metrô, at last! Agora, sim, a viagem engrena. O trem passa rápido, vocês vão ver só.
Depois de quase três minutos, a estação parece um portão de entrada para o show de alguma dessas bandas ruins que fazem um sucesso popular que é cientificamente impossível. As pessoas se amontoam atrás da linha amarela, e em cima dela e além dela também, aguardando o trem que ainda não chegou. Temendo ser empurrado nos trilhos por estes vândalos, ele fica a uma distância segura, mas corre o risco de não caber no próximo comboio. Rezando para qualquer um que ele acredite que seja o Criador, ele pergunta o que diabos que aconteceu com ele enquanto ele dormia. "Venderam minha alma pro Demônio em meu nome? Não é possível!", pensa, enquanto um cara que deve ter três vezes mais massa do que ele posiciona ao seu lado, pisando no seu pé e fazendo ele perder as esperanças de que conseguirá embarcar no metrô.
Eis que ele chega. Pra variar, apinhado de outras pessoas. Mas, huah, este é o Brasil! Aqui todo mundo cabe em qualquer lugar! "Um passinho pra lá, por favor", dizem os mais educados, em quanto todo mundo se esfrega e se acoxa uns nos outros, numa verdadeira demonstração de Sodoma e Gomorra. O pecado sobre trilhos. Nosso amigo é um dos últimos a embarcar. Para sorte dele, o cara assustador entrou em outro vagão.
A poucas estações do destino, uma situação inusitada: uma das passageiras, uma atraente mademoiselle, descansava inocentemente em um dos poucos bancos do comboio. Ao notar a estação, e ao perceber que a estação era a estação de desembarque dela, ela tenta cavucar um caminho por entre os metros cúbicos de pessoas para chegar ao ar livre, ou quase. Nosso amigo salta do trem para dar passagem à mocinha, mas o trem apita e a porta fecha. Com ele do lado de fora. ;_;

O outro trem está vazio, do jeito que Murphy gosta. Ele poderia ter esperado mais 30 segundos e pegar um trem vazio a viagem toda. Ou poderia nunca ter percebido que o trem vazio estava logo atrás para não ficar desapontado. Mas não é assim que a vida funciona. Ele embarca, e vai embora.
Felizmente, ele não dorme e perde a estação. Ele desce na estação correta, chega à superfície com notável rapidez e confere um bonito sol de terça-feira olhando para ele. Talvez, afinal de contas, o azar tenha passado. Mas só talvez. O dia ainda nem começou. ^^

Ouvindo:
The Iron Sea
Keane
Under the Iron Sea (2006)

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Drops

Boa noite, galera feia e fedida! A última semana deste glorioso mês de Julho está a se esvair e, com ele, nossas férias tão prezadas! Oh, não!!

Correndo contra o tempo, Rafael aquece-se e prepara-se para mais uma postagem no Inominativo! Pra você que está tremendo de medo, esperando outro sermão político chato, nada tema! Desta vez, deixarei Lula e a Companhia do Terror para os lados de lá. E hoje é dia de folia!

Drops

O Rafael que vos fala esteve presente, neste domingo que acabou de passar, em um importante evento de cultura jovem japonesa. O AnimeFriends, um dos maiores eventos temáticos do Brasil, congregou milhares de adolescentes de todas as idades para o que foi uma das bizarrices mais divertidas da minha singela existência! Acho que nenhum historiador, cientista político, antropólogo ou metido a sabichão previu que em algum ponto do simpático ano de 2007 teríamos tantos brasileiros andando por aí com roupas de personagens de histórias japonesas, aprendendo a falar japonês - e o que é mais incrível, com sotaque - e se sentindo em casa ouvindo músicas que tampouco eles entendem o que diz! Se bem que, se pararmos pra pensar, quando o rock aterrisou aqui no Brasil devem ter pensado exatamente a mesma coisa...

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Observava eu como é curiosa a nossa gente. Junto de tendinhas que vendiam camiseta do Chaves, tinha camisetas do Che, dos Ramones, do Rammstein (receio que tenha acertado o nome) e de quilos de desenhos nipônicos. Como pode todo mundo gostar de tudo isso ao mesmo tempo? Quer dizer, qualquer um que já assistiu meia hora de anime japonês sabe que é descabido uma pessoa que goste daquelas músicas poder ouvir Ramones e gostar. Eu também pensava assim, na verdade, até que eu vi umas 3000 pessoas que gostavam de tudo isso e muito mais. Vi gente macho o suficiente pra fazer franjinha emo e pintar de roxo, pra andar por aí com uma katana de mentira e achar que está abafando, pra se fantasiar de Escórpion e rebolar no meio da rua... Tem que ser muito macho, mesmo. Não sei se sou tão macho assim.

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Vi nesta feira de animes uma idéia genial, como só o povo brasileiro poderia ter: barraquinha de hot-dog self-service! Por favor, atentem para o fato de que ambas as grafias estavam corretas. Como funciona? Você pagava R$3,50 pra menina que ficava recebendo as fichas lá, e você ganhava um pão de hot-dog com duas salsichas. A partir daí, você colocava o quanto quisesse do que bem entendesse. Ervilha, milho, vinagrete, maionese, catupiry, mostarda, catchup e, o meu preferido, batata palha. Eu me senti fazendo umas 3 refeições ao mesmo tempo. \o/

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Falando em comida, estava a me perguntar hoje - como é que será que inventaram as guloseimas? Quer dizer, como é que um dia alguém descobriu que se você misturar ovo, farinha, leite e chocolate sai um bolo de chocolate depois de uma hora no forno? E quem diabos imaginou que pegar a clara do ovo e socar e socar e socar e socar ela faria dela uma massa levinha? Quem, oh, quem, idealizou uma massa feita de trigo socado e triturado, e que ficaria crocante e gostoso depois de um tempo sobre o fogo?
Pra começo de conversa, quem teve a brilhante noção de que comida sai de dentro de sementes?

***

Na saudosa Anatólia do século XIII - se você não sabe o que é Anatólia, procure pelo mapa da Turquia e note o pedaço maior dela, que é uma península e um planalto, de nome Anatólia - contam as lendas que existiu um homem muito sábio e muito sacana, que é chamado pelos falantes da língua lusitana de Nasrudin. Este homem, que não se sabe ao certo onde nasceu, mas que deve ter vivido por ali, onde hoje fica a Turquia. Todos os povos vizinhos contam estórias exaltadas desse cara, que parece o ó do borogodó furado, mesmo. Permitam-me contar uma:

Estava Nasrudin na paz do seu lar, quando fora convocado para realizar o Kuthba (sermão islâmico feito antes das preces de sextas-feiras) a um grupo de fiéis. Contrariado, o mulá Nasrudin chegou aos fiéis e perguntou "Vocês sabem sobre o que pretendo falar?". Ao que eles responderam que não sabia. O mulá ficou furioso, e disse "Como é possível que eu fale algo se vocês nem sabem o que falarei? Vou-me embora!". Virou-se e saiu.
Envergonhados, os fiéis foram novamente ao mulá, pedindo para que ele fosse na próxima sexta proferir ao Kuthba. Nasrudin concordou. Ao chegar para os fiéis, perguntou se eles sabiam sobre o tema. Eles responderam, desta que vez, que sabiam. Então, Nasrudin disse "Que ótimo, não tenho nada para dizer, então". E se retirou.
Obstinados, os fiéis foram mais uma vez pedir o sermão de Nasrudin. Ele chegou lá e disse: "Vocês sabem, afinal, o que tenho para dizer?". Os fiéis se dividiram, e metade respondeu que sim, enquanto outra respondeu que não. O mulá sorriu, e disse "Então, aqueles que sabem contem para aqueles que não sabem".

***

Até mais, gente que adoro!

Ouvindo:
Riders on the Storm (Fredwreck Remix)
Snoop Dogg feat. The Doors
Need for Speed Underground 2 Exclusive (2004)

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Duzentos

Gente querida! Fico feliz em saber que vocês estão bem, afinal. Estou bastante chocado com a catástrofe que aconteceu aqui em Paulópolis.

Aviação civil é um negócio muito ingrato. Todos sabem dos perigos graves de um vôo e, então, sentam, e gastam milhões - quiçá, bilhões - de dólares para criar sistemas de seguranças. E sabe o que é fantástico? Os sistemas funcionam. Voar de avião, estatística e proporcionalmente falando, é a maneira mais segura de se viajar no Brasil. Em relação ao número de pessoas que voam, ao número de quilômetros percorridos e ao número de acidentes ocorridos, o avião vence, fácil fácil, o automóvel, o ônibus e, se bobear, até a esticada de canela nas ruas.
O problema é que, como qualquer momento em nossa breve vida, voar de avião nos expõe à sorte. Podemos sofrer um acidente fatal em qualquer lugar. Em um ônibus, em uma piscina, em uma chuveirada, no meio do mato. E um avião, apesar de todos os procedimentos de segurança e de toda a tecnologia made in Século XXI, ainda pode sofrer acidentes. E sofre.
Só que quando sofre, a repercussão é muito maior. É uma coisa saber que duzentas pessoas morreram na cidade de São Paulo vítimas de acidentes de automóveis. Carros batem a toda hora. E é tão corriqueiro que essa notícia perde o "fator notícia". Não é mais novo. Mas um avião de várias toneladas de aço matando as mesmas duzentas pessoas, ah, sim, faz um barulhão. Não é sempre que aviões caem. Eles quase nunca caem e, quando caem, é por um conjunto tão improvável de eventos acontecendo juntos que chega a ser impressionante. Usualmente, quando um dos sistemas de segurança falha, existem outros três de back-up para salvar as duzentas pessoas no vôo. Claro, existem sistemas de seguranças para proteger as duzentas pessoas nos carros, mas, no vôo, é bem mais fácil controlar o problema.
O problema é quando o problema não é contornado. Quando alguns sistemas falham, os outros não são acionados a tempo e os eventos externos são totalmente contrários. Ao mesmo tempo. E um avião derrapa em uma pista encharcada pela chuva torrencial fora de época porque o vôo vinha com uma velocidade muito grande, graças a um problema no sistema de freio dos flaps das asas. O avião encontra (parece pirraça de alguém) um prédio com a logomarca da empresa aérea do outro lado da enorme avenida movimentada e, ao lado, um inocente posto de gasolina.
Quando essa merda acontece, tudo ao mesmo tempo, morrem as duzentas pessoas. Mas aqui é novidade, porque, puta merda, estamos falando de um Airbus de várias toneladas de aço e borracha e plástico! Com pessoas importantes dentro do vôo! Uma mulher grávida! Um deputado! Uma filha em viagem! Um pai de família! A população fica chocada, demanda respostas. E, por favor, não me entendam mal, não estou sendo irônico - o mínimo que devemos fazer, como pagadores de impostos, é exigir que alguém, em nome de Deus!!, bata no peito e diga "EU vou investigar o que aconteceu e EU vou evitar que outra merda desta proporção aconteça de novo". O caso é que NINGUÉM FAZ NADA!!

Há dez meses atrás, um Boeing caiu no meio da Selva Amazônica, no que foi premiado com o título de "pior catástrofe aérea da história da aviação brasileira". Ainda especula-se, de Brasília a Washington, quem desligou que aparelhos, se os culpados foram os pobres brasileiros, mal informados, ou os pobres americanos, mal informados. Agora, já foi provado que a causa foi um ponto cego no sistema de vigilância aérea. E que é possível que isso tenha acontecido porque os controladores de vôo estejam sobrecarregados, ou estejam trabalhando pouco, depende do lado da história que você prefira ver.
Alguém foi punido? Não. Alguma coisa aconteceu? Não. Ah, mentira, aconteceu, sim. O Lula deve ter falado que "nunca antes na história deste país..." e terminou com alguma coisa realmente louvável que ele tenha feito, e que não era mais do que obrigação dele. Algum ministro de alguma coisa deve ter falado que alguma CPI de algum nome prolixo foi instaurado, e "as causas estão sendo investigadas". Ah, a sensação de que nossas competentes autoridades estão trabalhando é mesmo acalmante...
Nos meses seguintes, quando tudo isso caiu na pizza a que estamos acostumados, a ex-prefeita da capital paulista - e a cidade que mais consome pizza na América Latina - e atual ministra do Turismo, cujo nome não escrevo por profundo nojo - pede ao povo para que "relaxem e gozem". Afinal de contas, voar de avião nesta pocilga a que estamos sujeitos deve doer no início, mais depois você dá risada das piadas. E é a única coisa que podemos fazer para manter nosso louvável bom-humor brasileiro.
Enfim. Passaram-se dez meses, desde a maior catástrofe. E nada mudou. Alguns manés foram demitidos para que o povo veja que providências serão tomadas (sim, somos idiotas, senhores governantes, acreditamos que vocês estão trabalhando vinte quatro horas por dia), alguns ministros falaram coisas bonitas, outros falaram verdadeiras babaquices para os repórteres com o microfone da Globo. Os líderes da Infraero, empresa que cuida da estrutura aérea dessa nação coitada, diziam, nas vésperas do acidente, que "Congonhas não tem qualquer tipo de problema. Voar lá é bastante seguro". As companhias aéreas continuam fazendo overbooking e mantendo as operações como se nada tivesse acontecido. Ah, estou sendo injusto - as companhias aéreas são as que mais fazem desde a catástrofe de Outubro de 2006. Dão barrinhas de cereais aos passageiros que são vítimas da loteria aérea. Sim, se a iniciativa privada não fizer nada, então morreremos de fome. Porque os governantes não dão a mínima pra essa cambada de azarados. Eles estão relaxando e gozando com nossos impostos em algum lugar deste planeta.

E vem o desastre. O Presidente da República anuncia que o Governo estará de luto oficial de três dias. Pois é, se ele não avisa, nunca saberíamos que estamos de luto. Obrigado, Mr. Squid. Montam alguns inquéritos, organizam documentos, apontam culpados. Alguém vai dizer que a culpa é de alguém importante dentro da apodrecida hierarquia nacional. E esse alguém importante mexe alguns pauzinhos, contata uns amigos influentes, faz algumas ameaças, diz que vai acabar com esse país se o país tentar acabar com ele. E ninguém faz mais nada contra esse cara aí. A culpa vai pra outro, que vai pra um terceiro, que vai pro Presidente, que diz que não sabia de nada.
E vivemos assim. Daqui a dois meses, veremos notícias sobre os aeroportos lotados. E mudaremos de canal, porque cansamos de saber que os vôos demoram 4 horas pra sair. Cansamos de pedir mudanças. Seja lá quem era que estava com a corda no pescoço consegue o que queria: a absolvição por falta de provas. O processo é arquivado, ele ganha o homérico salário dele, volta pra casa no seu jatinho particular, gasta nossos impostos. Daqui a 3 anos, esse cara vai na TV de novo, pedir o voto dos otários que tenham se esquecido da cagada de 2007. E da de 2005, e da 2006, e da de 2008, e da de 2009. E eles terão esquecido, claro. E não farão nada de diferente. O deputado diz que a culpa não é dele, afinal. É do babaca do brasileiro, que votou nele. A culpa é sua, brasileiro. Toda sua. Você, pagador de impostos, estudante honesto, vítima das desgraças da nossa sociedade. Você é o culpado. E você diz que não tem nada a ver contigo, nada disso. A culpa é da próxima geração, que vai arcar com tudo isso. Safados.

Precisamos, infelizmente, de DOIS acidentes com um avião de toneladas de aço e borracha e plástico, um deles caindo no meio da metrópole paulistana, para que as pessoas notem que tem algo de errado. Aliás, dois não. Já sabíamos faz tempo. Há muito tempo. Os acidentes foram usados como tentativas vãs de ver se alguém se tocava do que estava acontecendo. Não adianta mostrar duzentas vítimas de balas perdidas no Rio. Não adianta mostrar duzentas vítimas de batidas de automóveis depois do carnaval. Não adianta duzentos seqüestrados. E, pelo visto, também não adianta mais um avião, pegando fogo, no meio da Av. Washington Luís. O que salva esse país, então? Oh, e agora? Quem poderá nos proteger? Um herói mexicano?
Mas ninguém nos protege. Não tem ninguém que bata no peito e diga que vai consertar esse país. Ou deve até existir. Mas esse cara é tão pequeno perto do mar de lama que ele não consegue nem sair vivo do buraco em que se enfiou. E continuamos na mesma. Esperando que saia, dos confins de lugar nenhum, o verdadeiro patriota. Aquele que bata no peito e diga "Este país é meu também. E se ninguém vai fazer nada por ele, bom, então faço eu". Aliás, todo mundo achou que esse presidente de agora era algo próximo disso. Infelizmente para nós, entretanto, ele é mais um que mergulhou nos domínios da sereia e se enfeitiçou. Tornou-se somente mais um. Se é que não era mais um antes, sei lá. Mas eu não estou em posição de dizer.

E a nossa aviação fica aí, meio sucateada. Temos medo de pegar avião, porque vai saber o que vai acontecer com ele no alto. Jatos americanos? O King Kong? Bater no Chuck Norris, talvez. E vendo ninguém fazer absolutamente nada. Absolutamente nada. É claro, não sejamos hipócritas, o Brasil não é o único país em que esse tipo de coisa acontece. Mas, até onde sei, é o único país que acontece esse tipo de coisa, não acontece nada e ainda tem a impáfia de querer ser um país importante. Eu odeio profundamente quando dizem que o Brasil não tem chances de ser um país desenvolvidos, que estamos condenados, que esse zé povinho não presta, que viveremos pra sempre na merda. Mas se a gente continuar nesse passado engessado, tendo essa gentinha como líder e achando que eles vão levar a revolução pra nossas casas, não temos a menor chance de ser o país do futuro. Como seremos um país decente quando boa parte da nossa população pede esmola pro Presidente Squid? Eu não sei responder. Só sei que não será nada perto. Só sei que nada sei.

É como diria o Lula: só sei que nada sei.

E que Deus abençoe o meu país.

Ouvindo:
Sunshine
Keane
Hopes and Fears (2004)

Ah! Antes do fim, vou ser grosseiro antes para não precisar ser depois: pouco me importa se você é a favor do Lula ou de alguém do Governo. Não se incomode me xingando. Eu já tenho minha opinião formada, eu não gosto dele e de ninguém que simpatize com o PT ou qualquer partido parecido com isso. Mas sobre minha opinião política, eu falo outro dia.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Uma Filosofia para Banheiros

Good nite, my mates! (Favor, ler com sotaque britânico). Depois de jogar um simpático jogo que se passa na Inglaterra e ouvir um pouco os nativos da ilhota européia a falar, eu me senti inspirado para sair por aí falando no sempre interessante sotaque dos anglos. Infelizmente, este blog não passa áudio. Ou, melhor, até pode passar - mas pra isso eu teria que fazer um vídeo no tutubo e colocar online. E não, eu não estou com vontade. Prefiro fazer o good ol' textual. Nifty. ^^
Tá, Rafael, chega de anglicismos.

Devo adiantar meus pedidos de desculpa. Estou profundamente chateado comigo mesmo. Eu já nem gosto de deixar seis dias entre um post e outro, e dessa vez eu esperei ONZE dias. ONZE!! Que trágico... Mas nem temam! Eu ainda mantenho este blog! Vamos lá, vamos a ele!

Eu e Eu Mesmo
Uma Filosofia para Banheiros

Já se sentiu perdido? Sem saber quem você é? O que fazer? Quando tomar decisões? Não se encontra na vida? Chateado? Desmotivado? Sem vontade de cantar uma bela canção? :D
Não se espante, simpático primata inteligente. Todos nós, bem como todos os nossos ancestrais (inclusive Adam, a bactéria que originou a vida) um dia paramos tudo o que estávamos fazendo para nos perguntar: é isso o que eu quero fazer? Eu estou fazendo certo? Existe mesmo um Chuck Norris Todo-Poderoso que pode mesmo dar um Roundhouse Kick? Perguntas existencialistas são meio comuns quando estamos em situações ruins, como no meio de um monte de corinthianos revoltados, ou junto de duas mulheres de TPM em uma sala fechada, ou quando você descobre que precisa tirar 10,5 para não bombar a matéria. Enfim, quando você se sente um bosta, um reles chiclete na sola gasta de um sapato furado. Nestas horas, quando você se encontra neste ponto, sem saber o que fazer e onde procurar resposta, não vire emo. Dê uma chance para a vida, o sol e os passarinhos. Siga os ensinamentos do Buda: procure dentro de si. A resposta está no seu interior.
O negócio é saber em que interior, exatamente, procurar. O graaande problema dos nossos compadres humanos é que a maioria das pessoas procuram no lugar errado a resposta para a vida. Uns tentam a resposta no interior da carteira ou da conta bancária. Outros, no interior do coração. Outros, no interior da própria razão. Mas eu adianto que tudo isso é busca perdida, não dá em nada. No máximo, no máximo, você descobre que você não é a pessoa quem queria ser. E aí, se afunda em desgraça. Que terrível, né?

Mas não temam! Existe um lugar pra se procurar em que você vai obter respostas muito mais convincentes do que as respostas convencionais! Cansou de procurar? Revistou todas as gavetas? Aquele casaco seu que você não usa há seis meses? Até a sala de troféus do Rubinho Barrichello, que dizem as más línguas que é lá que os duendes escondem as coisas pra você não achar? É porque ninguém entra lá faz tempo... Seja lá como for: não, não é nenhum lugar esquisito assim, não. Quer uma dica? Vá cagar.

Estou falando sério! Ao se sentir pressionado pela vida, pela calça e pela feijoada, aprume-se e marche para o cantinho mais íntimo de todos os caras de uma casa. Lá, no banheiro, você e seu eu interior se comunam, se tornam uma pessoa. Enquanto uma parte de você está, bem... está trabalhando, a outra parte foca seus devaneios em assuntos importantíssimos. Pensando no ontem, no hoje, no amanhã. Quem é você, o que é você, quando você passou a ser você, se você é você ou o vizinho. O que você realmente gosta na vida. E o que não gosta. E o que poderia passar a gostar se te pagassem... Em um ambiente destes, você se sente quase como se encontrasse o Criador, o Cara das Respostas, o Mano que Manda. Ou como se você encontrasse um FAQ (acrônimo de "frequently asked questions", ou questões freqüentemente perguntadas, é onde os caras colocam respostas pertinentes a dúvidas corriqueiras). Você, de um jeito ou de outro, recebeu a oportunidade de encontrar a resposta. E ela não está escondida atrás do arco-íris, nem em Eldorado, nem dentro da sala de troféus do Palmeiras, que também está sem visitantes a anos. Ela está, como o amigo Buda nos lembrou, dentro de nós mesmos.
Em sintonia conosco, passamos a nos entender melhor. Sim, salvo lembrar que o momento é catalisado pelo alívio de tensão que está sendo praticado. Sem tensão, o cérebro alivia e pensa melhor. Às vezes pensa em bobagens, como "legal, tem 75 azulejos nessa parede". Mas pensamentos brilhantes estão em qualquer lugar.
Vejam um exemplo. Thomas Edison é lembrado por nossas gerações como um cara altamente inventivo que saiu por aí inventando coisas. O edredon, o pôquer, o golfe de salão, a bazuca portátil, todas são invenções corriqueiras deste americano fanfarrão. Mas a maior e mais interessante de suas invenções foi, sem dúvida, a lâmpada incandescente. Claro que há controvérsias, uns acreditam que foi o golfe de salão e outros lembram que ele inventou o termo "É uma brasa, mora?". Especula-se, entretanto, que ele não patenteou pela sua dificuldade em pronunciar o Português.
Viagens na maionese à parte, Tom estaria lá, coitado, na dele. Um belo dia de Abril, ele estava a filosofar em sua própria companhia no lugar mais agradável da casa. Acontece que como Tom Edison ainda não havia inventado a lâmpada incandescente, bem, ela não existia. Então as pessoas andavam com velas, que eram inconvenientes, porque queimavam, às vezes, lugares indesejáveis. Edison pensou, então, que deveria existir um jeito de deixar a vela na dela, sem que ela caia e queime a cortina. Então ele pensou em colocar a vela em uma redoma de vidro! E, talvez, não fazer queimar parafina. Talvez querosene!! E então, ele inventou o lampião! Naturalmente, ele ficou muito frustrado ao descobrir que o lampião não só existia, como já era amplamente usado em Detroit, cidade que ele freqüentemente visitava em seus dias jovens. Mas ele se animou para inventar a lâmpada, posteriormente. Para nosso bem, ele não era um emo frustrado.

O exemplo de Edison é notável. Recluso em sua bolha de pensamentos, Tom colocou seus neurônios para funcionar depois de um ligeiro aditivo, e teve o princípio da idéia que o faria para sempre famoso. Mas não é só o vaso sanitário que nos proporciona momentos de paz interior. A gente pode, por exemplo, tomar banho.
Debaixo de um chuveiro, liberamos outra faceta nossa - a de realizador de desejos. Nenhum ser neste planeta sabe explicar satisfatoriamente o que acontece com um ser humano que o faça, num átimo de felicidade, começar a cantar Avril Lavigne ou Manowar, começar a duelar esgrima, arrotar o alfabeto, treinar paqueras, encenar O Fantasma da Ópera... Mistério. Mas é a pura verdade - dentro do box do banheiro, você é livre para ser quem quiser. E tome cantoria desafinada, e o que mais você quiser fazer enquanto ninguém está olhando. Ouvindo, talvez. Mas não olhando.

Viram que interessante? Todos os anos nós estivemos procurando coisas que nos façam felizes, mesmo que instantaneamente. Fumando uns cigarrinhos do Diabo, batendo nos nerds na escola, pegando o gato pelo rabo, assistindo Banheira do Gugu... Acontece que a resposta para nossos problemas não precisa de nada muito difícil. Quatro paredes, algumas louças e uma porta são o suficiente para que você se encontre. Passemos nossos tempos de angústia nos concentrando e encontrando a felicidade última! Melhor do que vislumbrar o Paraíso é poder chegar lá! \o/
E lavem as mãos depois de sair, por favor.

Ouvindo:
Valley
Doves
Lost Sides (2003)

domingo, 1 de julho de 2007

Piada Feminista, Piada Machista

Ahoy, mates! Mais uma vez estamos nós aqui, na tentativa de manter o sonho vivo! Não deixemos este blog morrer! \o/
Sim, eu sei, passei um tempo sem escrever nada de novo acá. E eu estou chateado, claro que estou. Durante os oito dias que separam este post do post passado, tive algumas boas idéias que poderiam evoluir para bons posts. Mas na infeliz correria a que estava vitimado - provas atrás de provas - não pude me dar ao luxo de sentar-me de frente a um computador por mais de meia hora. Ainda se eu pudesse dizer "eu sacrifiquei meus dias, mas fui bem nas provas", eu não estaria reclamando. Mas eu estudei pra caramba e acho que fui mal. Azar, amargo azar.

Bah, eu me preocupo com isso quando a hora chegar. Por enquanto, eu estou a fim de escrever para o Inominativo! Hohohoho!

Muito bem. Estou a fim de falar sobre um assunto qualquer, só para postar aqui, mesmo, já que as boas idéias que tive no passado, as quais já comentei, acabaram sendo esquecidas. Então lembrei-me que, em um longínquo tempo, quando da rendição alemã na II Guerra Mundial, eu queria fazer um post sobre o mundo das picuinhas homens-mulheres. Já que eu não tenho nenhuma idéia melhor, vejamos o que eu posso fazer da vida. Mãos à obra!

Piada Feminista, Piada Machista

Eu deduzo, baseado em algumas observações feitas por aí, que homens e mulheres gostam de fazer picuinhas entre si desde que homens são homens e mulheres são mulheres. Como os biólogos de plantão podem me lembrar, entretanto, o gênero masculino e o gênero feminino existem muito antes dos macacos descerem das árvores e ficarem pelados. Portanto, podemos imaginar que antes, beeem antes de nos acharmos uma espécie inteligente, já havia essas divertidas rixas entre homens e mulheres, entre meninos e meninas, entre manos e minas. Talvez os primeiros seres vivos que aprenderam a se reproduzir na base da sacanagem passaram a se distinguir entre macho e fêmea, e já tinha essa divertida diversão de sacanear uns aos outros.
Eventualmente, passamos aos animaizinhos, que faziam sacanagem para se reproduzir e para se divertir também. Posso imaginar aqui, agora, dinossauros do tamanho de edifícios jogando truco em uma mesa - tiranossauros não jogavam baralho, eles não conseguiam segurar as cartas alto o suficiente para vê-las - e fazendo piadinhas sobre as dinossauras e comentando sobre a sexualidade da estegossaura que eles recém-conheceram. E as piadas, não esqueçam as piadas.
Depois vieram as girafas pescoçudas, os elefantinhos, as ratazanas, e até as joaninhas! Joaninhas machos não fazem piadas machistas, entretanto, porque as joaninhas fêmeas sempre lembram às joaninhas machos que eles são freqüentemente chamados de joaninhas, um nome feminino. E deve ter um bom motivo pra isso.

Chegamos então ao ápice da biologia sobreviventista - o homo sapiens sapiens. O macaco pelado de última versão, com tração nas quatro rodas, freios ABS, direção eletrônica e localizador GPS. Yep, o suprassumo da tecnologia biológica. All heil mankind!
Os seres humanos vieram também com um cérebro desenvolvido de fábrica. Eles, agora, eram tão inteligente que, entre outras coisas, sabiam construir banheiros, ligar geladeiras na tomada e realizar complexas equações matemáticas como: "R$1.000,00 com um desconto de 20% mais juros corridos de 3% mensais resulta em 12 parcelas de R$67,00 no cartão ou no cheque, pra só pagar depois do Carnaval!". Mas não é só isso que ganhamos. Viemos também com capacidade suficiente para saber ler, escrever e contar piadas. Ah, que ótimo, chegamos ao apogeu da história.

Conta-se que Heptarco de Siracleusa, um grego que viveu no século XXIII antes de Cristo, o Mano Chapa Quente, fez despretensiosamente, em uma tarde de novembro, uma piadinha com sua mulher, Queráclia. A piadinha, que pode ser qualquer piadinha machista simples, era uma terrível novidade para o mundo ocidental, que ainda nem existia naquela época. A sociedade chocada, o mundo estarrecido. Oh!, diziam os gerontes, velhotes mal-acabados que cuidavam das pólis gregas. Daí vocês podem imaginar como funcionou a piada machista, a primeira piada do gênero do lado de cá do planeta - a metade da sociedade grega achou muito engraçada e genial, e que eles usariam esta piada quando chegassem em casa e vissem suas mulheres. E a outra metade ficou indignada, fez um senhor barulho e combinaram uma greve de sexo tremenda. Conta-se, ainda, que Siracleusa veio a sucumbir vinte e cinco anos depois, por falta de nascidos para repovoar a cidade. Um terror.
Desde então, descobrimos que os homens e as mulheres têm, afinal, cérebro suficiente para entender as piadinhas e, pior ainda, levá-las a sério. Desde então, descobrimos que não importa a genialidade e a inovação das piadinhas, sempre faremos somente metade da sociedade dar risada.

Piadas feministas meio que não existiam aos montes em tempos remotos. É possível que as damas fêmeas dos séculos ultrapassados até contassem piadas sobre o marido ogro com o pinto pequeno, sobre o chifre que aplicaram nele, sobre como ela achava ele bunda-mole e que não merecia o cargo de Centurião do Império Romano... ah, mulheres fofocavam horrores, desde há muito tempo. Acontece que não sabemos muito sobre piadinhas femininas porque as mulheres meio que não estavam no centro do mundo criador de culturas antes, não é mesmo?
Eventualmente, as demoiselles galgaram à condição de igualdade - ou, pelo menos, no papel. Revolução para elas, e agora elas também são importantes no cenário mundial. Não que elas nunca fossem, pelo contrário. Mas é que agora elas estão sendo creditadas por isso. E com esta paridade social, as mulheres também parearam na importância de piadas. Aliás, elas até fazem ótimas piadas, é claro. Não fosse o fato de metade da humanidade não ver graça nenhuma nisso.
Piadas feministas costumam ter o quê de refino e de graça, típico do gênero feminino. Sabe, o tipo de piada que ofende, mas sem xingar? Sem nem precisar falar mal da mãe. Então.

Piadas machistas, ao contrário, devem ser conhecidas há tempos. Sobre como as mulheres não deviam sair do tanque e do fogão, sobre como elas não sabem conduzir as bigas romanas, e outras piadinhas genéricas que vocês possam pensar. Como os homens nunca passaram por problemas de igualdade social, eles não precisavam se preocupar em realizar revolução masculina, de modo que passavam o tempo livre sacaneando as moças. Isto, é claro, enquanto eles não estavam em guerras para mostrar quem era o mais macho do bando. Um brinde à testosterona!
Na nossa Era Moderna, nasceram algumas piadinhas novas, adaptações das antigas piadinhas, criadas pelo mesmo Heptarco de Siracleusa em seu "Ciclíades do Sexo Oposto". Algumas valem boas risadas de quem for pego distraído, mas a maior parte é, assim como piadas feministas, divertidas somente pra uma das metades da população. E, assim como os exemplares masculinos, piadas machistas costumam ser fedidas, grosseiras e, bem, machistas. Mas também não vale falar da mãe.

O interessante é notar, de fato, que piadas do tipo costumam ser boas, bem como todas as piadas que se prezem. O grande graaaande problema das piadas do gênero é, como eu já cansei de dizer, só agrada a metade do povo. A outra metade faz cara de bunda, acha sem-graça, fica cheio de vontade de dar resposta cortada... Enfim, não sabem lidar com uma piadinha inofensiva, os coitados.
A gente tem que reconhecer, todavia: não fosse o fato que uma piada do tipo pode te ofender, há algumas delas que são boas e valem uma risada. Outras, de fato, não merecem nem o esforço de se ouvir, mas, bem, são todas piadas, né? Você só vai saber se é boa ou não quando ela terminar... ^^

Enfim, piadinhas feministas e machistas são só mais um capítulo para o interminável texto das relações entre homens e mulheres. Típica relação em que os dois lados se amam e se odeiam. Se destacam e se complementam. Tipo o Batman e o Coringa. Tipo o Peter Parker e o Venom. Tipo um palmeirense e um corinthiano. Como diz o ditado "Ruim com, pior ainda sem". É.
Mas eu continuo fazendo piadinhas. :P

Ouvindo:
Broken Toy
Keane
Under the Iron Sea (2006)