terça-feira, 22 de abril de 2008

Óculos

Olá olá, senhores seres humanos! O Inominativo retorna ao ofício de sempre. Desta vez, de cara nova e cheio de amor pra dar. Que acharam do novo layout? Meio brega, eu sei, mas já já vocês se acostumam. Oras, se vocês se acostumam com um barbudo iletrado e prepotente como Presidente do Brasil, o meu blog sairá de letra!

A fim de não me demorar muito ao escrever a introdução, não colocarei nenhuma introdução simpática. Vocês que imaginem que eu coloquei aqui algo de realmente enaltecedor e enriquecedor. Algo que vocês não poderiam viver sem. E vamos em frente, que atrás vem gente. Ui. :B

Óculos

Eu lembro de quando eu era mais jovem. Quando eu não tinha nem dez anos de vida, e tinha dores de cabeças gratuitas nas aulas e em frente o computador. Já estava até habituado a elas (sempre suspeitei que cabeça oca deve sentir muita dor quando se pensa por um momento :P), mas mamãe achou tudo muito esquisito. E depois de notar alguma dificuldade minha em enxergar à distância, levou o autor que lhes escreve ao oculista. Não lembro detalhadamente do oculista - tampouco se era homem ou mulher, jovem ou idoso... - mas lembro das dificuldades que tinha em ler aquelas litrinhas miudinhas, láááá ao longe... "E agora? Melhorou ou piorou?" "Erm... acho que piorou.". "E agora? Melhorou ou piorou?". Coisa mais chata, aquilo.
Depois, lembro que o dotô falou que eu tinha vista cansada. Não lembro exatamente o que era, mas eu tinha de usar óculos pra fazer as coisas mais legais, como ver tv e usar computador. Coisas não tão legais, como assistir aula e ler livros, também eram para ser feitas com um óculos. Isso significava, na prática, que eu teria de pagar o mico de usar óculos na sala de aula, na frente de todos os meus amigos, por muito tempo. Ah, o quanto de gozação eu não aturei... Quatro-olhos era o mais comum, e o mais simpático. Lembro-me que eu perdia meus óculos várias vezes, e teve a vez que ele quebrou em uma aula de Ed. Física. Ah, a minha infância...
Depois, minha situação piorou, e agora eu sou míope, mesmo. A tendência é cegar-me e cegar-me ad infinitum, até que eu não saiba reconhecer mais o nariz entre meus dois olhos. Credo, que exagero. :P

Óculos são, na minha opinião, mais uma das geniais idéias ardilosas montadas pela sempre presunçosa raça humana, pra mostrar pra Deus, o Mano que Manda, que quem cuida da nossa vida (e de nossos desastres genéticos, como a miopia, o canhotismo e outros) somos nós mesmos, e nós somos completamente aptos a resolvê-los! Um par de lentes grossas de vidro - ou de outro plástico mais resistente e tecnológico, como o acrílico - cuidadosamente fabricado, e colocado em uma (muitas vezes cafona) armação de ferro ou plástico ou whatever foi inventado para sacanear a falha da natureza, e devolver a você o dom de enxergar! Hooray! E aí, cabe a você colocar seus óculos na frente dos seus apáticos olhos, tão preguiçosos que não fazem direito nem a única função que lhes foram dados: enxergar. Só que, todos sabemos, a vida de um dependente ocular é muito mais complexa do que viver com os óculos sobre o nariz, até que a morte os separe. Nah, tem bem mais coisas.
Quando o cara passa a usar óculos, ele deixa de ser um cara comum. Agora, tudo o que ele vai fazer precisa ser intermediado por aquele negocinho, pra que ele veja com precisão suas ações. É meio que nem o guri que vive andando com sua bombinha de asma, ouo vovô que sempre anda com um comprimido de Viagra (nos dois casos, você nunca sabe quando vai precisar usar, certo?). Mas é diferente, porque o óculos está lá, na sua cara - literalmente - denunciando que você é uma aberração, um ato falho da Natureza. Freak. E todos saberão que você está atrapalhando a caminhada da Humanidade pela vida eterna! Queeeimem-o!

E o pior nem é ser uma aberração. O chato de usar óculos, mesmo, é que você tem que ter um zelo dos infernos por ele. Um óculos, infelizmente, não é qualquer objeto. Você não pode tratá-los como seu telefóne móvel, que você enfia em qualquer bolso, esquece jogado na mesa da sua empresa (ou na carteira da sua escola, sei lá), deixa cair de vez em quando e, se estiver de saco cheio, pode esquecer na sua casa que sua vida será, virtualmente, a mesma. Não, caro. Você pagará caro por não ter olhos perfeitos e magnânimos, que enxergam à longa distância, e viverá com seus olhos postiços todos os dias. É quase como um contrato de venda de alma ao Demo. E se você se esquecer do contrato por um só dia, seus olhos o lembrarão de quão ruim é ser um deficiente visual. Seu cego dos infernos.
E não é só isso: óculos costumam ser, ainda, frágeis. Afinal, estamos falando de lentes de vidro - ou qualquer outro plástico transparente - onde qualquer acidente físico pode estragar seu uso principal. Em miúdos: se você for pateta o suficiente pra riscar seus óculos, corre o perido de eles ficarem imprestáveis, e você ter de arcar com outro. Viu como é uma infelicidade?

Ah, claro, os chatos de plantão haverão de lembrar: não há qualquer infelicidade em usar óculos, seu ingrato! Você enxerga quase perfeitamente graças ao seu par de óculos! Sem ele, como haveria de pegar os ônibus corretos? Como haveria de ler as lousas, sentando ao fundo da sala? Como haveria de reconhecer seu amigo ou namorada(o) de longe, e não se passar por metido? Sem os óculos, eu estaria muito próximo de ser um pária social, verdade, vivendo na marginalidade e sendo excrecado por esse mundo perfeccionista (credo, que drama). Mas, hey, vamos combinar, seria muito mais fácil se eu tivesse, simplesmente, bons olhos.
Bom, pra evitar a reclamação destes ingratos que, como eu, não viveriam sem óculos mas odeiam usá-los, inventaram uma auspiciosa maravilha tecnológica. Uma fina película (atualmente, creio que é feita de silicone) que se coloca sobre o olho e se enxerga tão bem quanto um óculos. Com a vantagem de não precisar usar aquela aberração sobre seu rosto a toda hora! Yay! A lente de contato nasceu pra fazer sucesso.
Mas não pra mim (hehe). É, verdade, o tamanho da lente de contato e sua elegância (usar óculos, hoje em dia, não é mais tão elegante e belo como em outras gerações saudosas) fez com que fosse a preferência de alguns míopes e hipermétropes, cansados dos óculos. Mas eu não vejo graça alguma em ter que ficar cutucando o olho toda manhã, todo torto, pra fazer a lente ficar no lugar certinho. E ainda tem que deixar a lente lubrificada quando não está usando, e não pode dormir com ela senão ela escorrega pra dentro do globo ocular... Pô, meu, puta frescura. Esse mundo anda enveadando descaradamente desde a Revolução Industrial, meus caros. Eu sou das antigas, prefiro o bom e velho e óculos. Super-prático! Pegou, usou! Lavou, tá novo!

Quer dizer, bom, mas nem tanto. O chato do óculos (e da lente também) é que a sua miopia - ou hipermetropia, ou astigmatismo, ou qualquer outra doença que você tenha no seu olho esquisito - não pára de piorar com o tempo, ficando cada vez mais acentuada, mês a mês; mas seu óculos já está feito, montado, e será sempre a mesma coisa. Isso obriga você (ou seu pai, dependendo do seu grau de inutilidade social) a comprar um par de óculos novos sempre que o oculista achar que é hora das óticas venderem mais lentes e óculos novos. O que faz a gente desconfiar que os oftalmologistas e os donos de óticas são aliados, e se unem para tomar o nosso dinheiro (duas vezes, aliás). É como os dentistas e os vendedores de chicletes, manja? O mundo é impuro mesmo, meu jovem padawan.

Ah, sim. Usar óculos é uma tarefa ingrata, injusta e infeliz. Tanta gente com vista perfeita e olhos lindos e claros, e você com seus olhos imperfeitos e imprestáveis, tendo que usar estes trecos que distorcem o seu belo e angelical rosto (pff, faz-me rir) para que você possa viver normalmente por aí. mas é um mal necessário. Que nem os políticos, que nem a chuva no fim de semana, que nem a conta pra pagar. O melhor a se fazer é aceitar o fato de que a vida (esta vadia safada) gosta de te sacanear e que o melhor que você tem a fazer é aceitar passivamente. Oras, eventualmente, será tão comum consertar a visão com uma cirurgia rápida, barata e indolor, que os óculos serão peças de museu. Até lá, companheiro quatro-olhos, não esqueça seus óculos em casa. O dia fica bem mais difícil, você sabe. ^^

Vejo vocês outro dia, senhores!

Ouvindo:
How to Explain
The Cat Empire
The Cat Empire (2003)

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Saudades do Útero

Heureca! Finalmente achei o que escrever no meu blog! Aê! Depois de um mês de abstinência, o Inominativo está de volta! Quem sabe, desta vez, para ficar? Quem sabe?

Muito ocorreu neste mês de interlúdio. O mundo finalmente pesou nas minhas costas, e eu me flagrei sem tempo para nada. Sem tempo para dormir, sem tempo para comer, sem tempo para internet. Algumas duas horas em casa eram tudo o que eu tinha por dia pra fazer tudo o que eu não podia fazer com a internet da empresa (que serve exclusivamente para que eu acompanhe a movimentação do câmbio do Dólar Americano). Nesse ínterim, tentei me dedicar mais à minha faculdade (e, que fique registrado, de nada adiantou) e ser um garoto mais responsável. O que aconteceu foi que eu abandonei minhas responsabilidades primordiais - entre eles, o Inominativo. E ele quase morreu. =/
Mas eu não deixei que ele morresse! Eu sou brasileiro, não desisto nunca!

Bem vocês sabem, freqüentadores de antigas datas deste blog, que eu costumo usar os meus posts como mensagens de parabéns aos mais próximos. É como o cara que paga um carro de som pra mandar dar parabéns pra mulher, cujo aniversário foi ontem e ele esqueceu completamente. Mas eu não faço barulho, não sou casado e não esqueci o aniversário de ninguém. =D
Seja como for, dia Dezesseis de Abril foi aniversário da minha prima e grande amiga, a Cibele. Tentei, então, re-inaugurar este cafofo com um post a ser publicado justamente no dia 16. Por motivos que não convêm, o post não veio. Tentei, então, o dia seguinte. E não pude postar nada - uma história longa e desengraçada ocorreu-me. Como eu finalmente consegui postar algo aqui, usarei esta publicação postada para dizer a minha prima e amiga que desejo tudo de mais legal e divertido do mundo. Feliz Vinte Anos, Cibele!! Espero que você seja ainda mais feliz e simpática e radiante e animada e adorável do que você já é! E que você ganhe na Mega Sena e passe o resto da sua vida acordando onze horas da manhã e fazendo nada de útil! Yay!
Amo você, Ciby! \o/

Business time.
O post de hoje nasceu em uma conversação, envolvendo o autor que lhes escreve, uma amiga do autor, uma amiga desta amiga e que lhe foi apresentado neste dia, e duas amigas desta nova amiga do autor (acho que compliquei demais: eu e mais quatro adoráveis damas). Conversa sendo gasta aleatoriamente, chegamos ao assunto maravilhoso do parto de um novo ser. Como é lindo ver uma criança nascendo, não? Claro que é. Quer dizer, é lindo se você não for a própria nascida.

Saudades do Útero
Nostalgias de um tempo que certamente não voltará

Tudo quieto e calmo no útero de sua mamãe. Sem preocupações lá dentro. Não há guerras, não há calor nem frio, não há contas para pagar, ninguém te incomoda. Bom, eventualmente, alguém cutuca a barriga da sua mãe "Ôôôe, nenê! Tudo bem, nenê? É o papai aqui! Diz oi pro papai, diz?" e te tira do sossego, mas isso é até tolerável. É bom se sentir querido.
Viver em um útero, aliás, é uma tremenda bonança, puta vidão bom. Deitadão, lá, em berço esplêndido, coçando o saco (tecnicamente, você tem 50% de chance de não ter um saco e, ainda que o tenha, ele não está completamente desenvolvido). Você simplesmente não precisa viver! Fica lá, boiando na barriga da sua mãe, chutando alguma coisa e chamando a atenção quando está com tédio. E é só. Você come sem precisar mastigar. Elimina suas impurezas (isto é, defeca) sem precisar fazer força. E vive às custas da sua mãe! As coisas ficam vindo pelo cabo que liga você à mamãe, o tal do cordão umbigal. Comida, nutrientes, vitaminas, anticorpos, sangue oxigenado e tudo isso que você precisa, hoje, para sobreviver. E você recebia sem fazer o menor esforço! Uma vida de marajá. E você nem se dava conta...

Eventualmente, começa a ficar apertado. A barriga da mamãe está ficando menor, tá cada vez mais difícil caber nela. Tudo tá apertado. Incômodo, asfixiante. De repente, você está escorregando! Weee! Mas não, um momento! Você está escorregando pra fora da barriga! Nããão!

Uma luz branca e forte. Tudo é frio, muito frio. Tem um cara com uma máscara verde olhando pra você, a testa toda suada do trabalho de parto. Mas, é claro, você nunca viu o rosto de um ser humano antes, então não tem a menor idéia do que está acontecendo. Uma toalhinha te seca rapidamente, e você sente um tapão enorme na bunda. E você chora.
O médico obstreta (ou as enfermeiras trabalhando ao lado deste) tapeia suas pequenas e recém-nascidas nádegas para incitá-lo a chorar. O choro abre os brônquios dos pulmões - até agora, você não respirava, lembra? - e, mais importante, prova a todo mundo que você nasceu saudável. Na minha opinião, entretanto, o choro é uma forma clara do recém-nascido dizer que está muito insatisfeito com aquela situação toda, e que deseja, desesperadamente, retornar para o conforto do seu lar. Em palavras mais impactantes: "Seus filhos de uma p***! Me devolvam para a barriga da minha mãe, ou eu vou acabar com a vida de todos vocês!". Como eles, geralmente, não te devolvem para a barriga da sua genitora, você decide acabar com a vida deles pelos próximos, ahn... bom, até a vida deles acabar de vez. =D
Isso não vem ao caso, though. Removido de seu útero, o qual você se acostumou a chamar de "lar", você está em um lugar estranho, fedido, feio e cheio de gente bizarra, que você deseja nunca mais vê-los novamente (claro, você não sabe que as pessoas que falavam com você na barriga são aquelas coisas estranhas que você vê, então você simplesmente deve odiá-los do fundo do seu pequeno coraçãozinho; que fofo).

Claro, alguns me lembrarão, sabiamente, que mesmo neste estado de choque, a vida de um recém-nascido ainda é infinitamente melhor do que a que você leva hoje. A criança é carregada para todo lugar, come de graça, todo mundo paparica, tem que estar sempre limpinho e alimentado e distraído, senão você chora e eles se irritam.
Este último parágrafo, aliás, leva-nos a uma terrível conclusão a respeito da vida humana: quanto mais tempo você vive, pior sua situação de ser humano fica. Depois do nascimento traumatizado, você perde, uma a uma, todas as mordomias que você já teve! Ser carregado no colo, ser alimentado pela mamãe, tomar banho de banheirinha, ter seu cadarço amarrado por outra pessoa, ser levado à porta da escola, ser ajudado pela mãe para se trocar, passar o dia inteiro em casa, viver junto dos seus pais, ter uma boa noite de sono por não ter filhos, não precisar dividir seu salário com mulheres e filhos, ter o cabelo com cor natural em vez do cabelo branco... Até que você morre. Yay.

Não é de se espantar que as pessoas tendam a ter esperanças ruins para o futuro. Claro, com a chegada do capitalismo e a promessa de que você pode enriquecer se trabalhar (pfff, conversa furada), as pessoas passaram a acreditar que o futuro pode ser melhor do que o passado. Mas, ah, vamos, , quem realmente acredita que o futuro vai ser mais legal? Você foi tapeado pelo capitalismo, continuará sendo pobre e, pior, sem as mordomias de outrora. Você foi tapeado, caríssimo leitor. Passado para trás, como um cara que compra iPobre em camelô.
O que nos leva a refletir: quão legal não seria passar mais uns nove meses no útero de sua mamãe? Dormindo quando bem quisesse, sem se esforçar pra comer, pra defecar, pra se defender de doenças, sem precisar andar nem sentar nem sair do lugar nem nada... Só ficar lá, bonachão, como um ricaço que inventou uma idéia mirabolante e que está ganhando rios de dinheiro com isso. Fazendo nada... O calmo e completo silêncio, onde se pode contemplar a vastidão do universo infinito, as respostas para as perguntas insolucionáveis da Física (Afinal, arrumar a cama é realmente necessário? Por que os moradores da casa do Tom e Jerry nunca contrataram um dedetizador, afinal?).
Não é de se espantar que, quando você pensa no que faria se ganhasse, subitamente, uma grande soma financeira, você se imagine passando seus dias em um lugar quente e agradável, não fazendo nada e tendo nada para fazer. Isso é somente saudades súbitas e subconsientes do útero materno, meu amigo. Aliás, demorou, já, pra algum cientista americano anunciar que inventou uma cápsula que simula o seu conforto na barrida de mamãe. Só assim pra você retornar ao cenário mais gostoso que você pode se lembrar, porque ainda que sua mãe esteja viva, ela definitivamente não aceitará que você retorne para uma pequena temporada lá. Seria legal pra você, não? Mas pra sua mãe, hehe, não tem conversa. Já saiu, rapaz, não tem retorno não. Tá pensando o quê, que é a casa da Mãe Joana?

Assim, acho que concluo a postagem de hoje. Animação! O Inominativo retorna do cemitério!
Obrigado aos que esperaram pacientemente por este momento de redenção. Mais do mesmo, no próximo episódio. =D

Ouvindo:
The Hardest Button to Button
The White Stripes
Elephant (2003)