quinta-feira, 12 de julho de 2012

Passando Vergonha com Dignidade

Olá mais uma vez, meus queridos!! É julho no planeta Terra e todos estamos felizes aproveitando nossas férias merecidas das aulas! Ou não, talvez você esteja de recuperação e agora está se amaldiçoando por não ter estudado, né? E aí você promete que semestre que vem vai estudar direitinho e não vai deixar tudo pra última hora, né? Hehe, como você é bobo...

Então, naquela quarta-feira de Lua Cheia, você e sua bela namorada decidem enfiar o pé na jaca e comer um portentoso Big Mac no McDonalds mais próximo. Nada mais romântico do que se sentar numa mesinha de plástico, sob a Lua, todo lambuzado de molho e catchup, com a sua namorada em uma noite de outono. Ah, o amor.
Eis que, na fila, você se depara com o anúncio mais estupidamente maravilhoso dos últimos anos, a ideia mais fenomenal desde a internet, desde o Mario 64, desde a Nutella: o McLanche Feliz está vendendo bonequinhos do Pikachu! Holy moly guacamole! Você FINALMENTE terá para si um bonequinho do pokémon mais simpático da história! Só que você agora está dividido: você precisa manter a boa pinta pra sua bela namorada, precisa ser um macho alfa e inflexível. Mas, cara, é um Pikachu!! Você ainda se lembra de quando comprou o seu Pokémon Yellow, para o seu antigo Game Boy, só para ter um Pikachu e vencer a Liga Pokémon!! E agora? ARRGH, como é difícil ser moderno!
Bom, nem tanto, se você continuar lendo :D

MANUAL MODERNO DO MANO METROPOLITANO
Passando Vergonha com Dignidade

Existem horas na vida de um homem (e de uma mulher também, o Inominativo não é preconceituoso), em que você simplesmente precisa passar vergonha para ser feliz. A vida moderna é excessivamente complicada e a sociedade é bastante opressora, e tudo o que você quer é uns cinco minutos de escape. Então, depois de alguma meditação (ou às vezes nenhuma, você simplesmente faz sem pensar), você achou que valia a pena engolir o orgulho e passar vergonha. Mas, caro amigo, exprimir seus pequenos desejos não precisa ser um calvário!! Você pode ouvir o seu inconsciente retardado sem sofrer (tanto) com a crítica da sociedade e com a moralidade judaico-cristã ocidental. Tudo depende, aventureiro leitor, de como você lida com o problema.
O mais importante, nessas encruzilhadas, é manter a expressão impassiva, de quem não está envergonhado consigo mesmo. Quando você não aparenta nervosismo, é como se aquilo que você está fazendo é perfeitamente e completamente normal. Quer dizer, é claro que não é normal um ruivo barbudo de 1,85m e 100kg entrar numa Ri Happy e pedir a nova Barbie Engenheira, mas se você mantiver a impassividade e agir como se não estivesse fazendo nada de absurdo, as pessoas vão simplesmente aceitar que não há nada de absurdo, de fato. Oras, o emérito rabino Henry Sobel roubava gravatas, por que diabos eu não posso comprar uma Barbie Engenheira?

O seu ar meio blasé vai funcionar com alguns, mas outros continuarão achando estranho uma mulher de trinta anos querer comprar um boneco do Ben 10. E por mais que você faça um ar de que isso é a coisa mais normal do universo, eventualmente aparece um engraçadinho metido à besta, um infeliz que vai simplesmente perguntar o que você está fazendo. Porque você, uma pessoa tão distinta e madura, está comprando algo daquele tipo?
Nesta situação, caro leitor, não há saída: valha-se da boa e velha mentira deslavada. Você está comprando esse gibi da Mônica pro seu sobrinho que está se alfabetizando! Ou está comprando uma boneca da Moranguinho pra sua irmãzinha linda de 8 anos que você ama! Está levando camisinhas porque o seu irmão está chegando na idade de se proteger, e você precisa zelar por ele...! Enfim, apontar culpados - especialmente se o culpado for uma pessoa nova e pura - exime você de julgamentos (aaaaaw, é o sobrinho dele que está se alfabetizando, que foooofo!!) e, mais ainda, pode até colocar você como uma pessoa brava e corajosa, que enfrentou de peito aberto o preconceito social para ajudar os que precisam!
Desnecessário lembrar que, mesmo nos casos onde mentir é a saída, sua cara impassível e o ar de que o que você está fazendo é normal não podem ser dispensados. Você precisa agir como se o que você está fazendo é totalmente normal e regular. É assim que uma mentira passa pelo olhar mais desatento e incauto. Mentir com convicção é uma habilidade invejável, e você deve praticá-la bastante. Jogue algumas partidas de truco.

Agora, você pode infelizmente chegar no pior cenário, em que as pessoas percebem que você está numa situação irremediavelmente cômica e bizarra, pra não dizer desconfortável (olhem lá, gente, um barbudão daquele tamanho comprando uma Barbie!!), e decidem fazer o pior - caçoar de você. Porque, afinal, é o que as pessoas fazem quando alguém está enfiado na merda: riem dela!
Nesta situação desvantajosa, em que você foi pego de calças curtas, existem três saídas pra você, querido: (i) mandar tudo se f**er, partir pra ignorância e esmurrar a galera pra mostar a sua (falta de) masculinidade; (ii) engolir o sapo e continuar agindo como se tudo estivesse normal, até mesmo a gozação alheia, ou; (iii) rir junto e assumir o centro do palco! Sim, é verdade, eu tenho 23 anos e ainda durmo abraçado com ursinhos de pelúcia! Sim, eu ainda gosto de Backstreet Boys e Sandy e Júnior! Siiim, eu coleciono bonecos dos Cavaleiros do Zodíaco, e bonecas da Barbie Profissões!! SIM, EU PASSO VERGONHA!
Assumir sua vergonha, diria o autor desse blogue, é ainda a maneira mais nobre de manter sua honradez, porque você pode esfregar na cara desses porcos hipócritas que você não liga pro que eles pensam!! Bom, na verdade, você liga sim pro que eles pensam, mas eles não precisam saber disso! Eles só precisam saber que você é um bruta dum macho, que é tão macho que não tem medo de parecer viado na frente de todo mundo pra ser feliz! DEAL WITH IT!

Então, da próxima vez em que você estiver dividido entre manter seu pretenso status social e alimentar suas vontades interiores, mande o mundo às favas e vá ser feliz. O mundo se vira sem a sua felicidade bizonha. Você não. :D

Ah, sim, pra concluir - nosso herói do começo da história ficou numa tenebrosa dúvida, mas acabou comprando seu Pikachu no McDonalds. Morrendo de medo do julgamento da bela namorada, ele o escondeu no bolso da jaqueta e manteve sua impassividade. Até quando o seu Pikachu caiu do bolso, claro, e a bela namorada o viu. Antes que ele pudesse pensar em qualquer mentira deslavada, ela exclama, extasiada: "Um Pikachu!! Como você sabia que eu adoro Pikachus??"
Ah, garoto! Ele não sabia, mas valeu a pena passar vergonha. No final das contas, sempre vale a pena passar vergonha. Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena :D
Mas ele acabou ficando sem o Pikachu dele. Raios.

Ouvindo:
Block Rockin' Beats
The Chemical Brothers
Dig Your Own Hole (1997)

domingo, 8 de julho de 2012

Nerd Pop

Boa noite e olá para todos vocês! Como estão? Tudo bem? Aproveitando as férias de suas escolas, faculdades? Odiando o inverno, amando o frio, torcendo pela Mega Sena? Saudades de vocês, leitores! :D
Mais de ano desde a última vez que postei no Inominativo. Mas mesmo sem postar por tanto tempo assim, eu nunca o declarei oficialmente falido, de modo que achei por bem postar algo aqui assim que sobrasse tempo livre e boas ideias.Modéstia a parte, boas ideias eu sempre tenho. Mas tempo livre, epa, acabou de aparecer. Então, senhoras e senhores estimados leitores, e leitor aleatório que parou no meu blogue sem querer querendo, convido-os para mais uma leitura, porque eu adorei escrever mais um texto para o meu blogue querido, e adoraria mais ainda que vocês os lessem! Aproveitem, e espero que se divirtam!
E se não se divertirem, também, vão cagar. Chatos.

Nerd Pop
Ser nerd está na moda

O mundo sempre gostou de rótulos. Rotular as coisas é uma maneira bastante fácil de entender o que você ainda não entende, de explicar o que ninguém te explicou, de dar uma cara familiar pra algo que você nunca viu. Então, não é de se espantar que as nossas felizes sociedades humanas tenham ocupado muito de suas vidas efêmeras rotulando as coisas, os fenômenos, os eventos e as pessoas. Siiim, as pessoas também! Porque, afinal de contas, humanos também são estranhos, e rotular ajuda bastante quando você quer entender humanos estranhos.
Rotular as coisas não é ruim, é claro. Muito pelo contrário! Vejam vocês, o Universo é um lugar bastante complicado, e a humanidade evoluiu encontrando padrões no Universo pra aprender a fugir de predadores, plantar batatas, dançar salsa e, enfim, viver uma vida feliz. Se não fosse nossa admirável capacidade de encontrar padrão em tudo quanto é lugar que olhemos (ou ouçamos, toquemos etc.), não teríamos essa nossa notável habilidade em evoluir e nos adaptar ao nosso mundo belo e hostil. E isso é ruim. Então, padronizar as coisas que encontramos nos ajuda, sabe, porque a gente entende o universo, consegue se adaptar, e vive feliz. Êêêêê!!
Mas eu viajei demais. Estávamos rotulando os humanos e, como vocês sabem, isso é bastante fácil e comum nos idos modernos. Desde que você é pequeno e começa a se acostumar com a sua sociedade estranha, você aprende a rotular as pessoas. Porque todo mundo faz, porque é divertido e rende boas piadas, porque é mais fácil. E aí, você passou, então, a ter, já na sua escolinha, os amigos palhaços, os atletas, as patricinhas, os filhinhos-de-mamãe.

E os nerds, claro. Todos conheciam alguns nerds. Aquela galera estranha, que entendia matemática, corrigia os que falavam errado, jogavam vídeo-game, eram desajeitados e esquisitos. Na época das panelinhas, ninguém se misturava com um nerd, porque eles eram bizarros e sem-graça, só falam de coisas que ninguém entende. E os nerds também não se misturavam, porque ninguém os entendia, e ninguém tolerava os gostos exóticos que eles tinham (como assim, gostar de química, jogar Mega Drive, ler Superinteressante?). Pelo menos na infância deste autor que vos fala (os saudosos anos 1990), nerds eram meio alienígenas, meio monstros, aqueles caras que você até conhece e dá bom dia, mas é melhor manter distância. Pode ser que mordam.
Bom, enquanto o resto do mundo vivia a sua vida feliz, jogando bola, andando de bicicleta, tomando sorvete e sendo tão normais quanto o possível, aqueles pobres nerds viviam nas suas vidas estranhas. Estudando química orgânica, comprando Playstations e lendo livros do Carl Sagan, os meninos nerds conseguiram mesmo viver numa vida paralela deles. Inventaram o RPG (role-playing game, jogo de fantasia assaz interessante em que você pode matar dragões e derrotar magos poderosos sem sair de casa), descobriram as ficções científicas americanas e, enfim, descobriram um breve nicho de felicidade nesse inóspito mundo moderno. Os nerds podiam ser estranhos em paz, sem incomodar ninguém!!
E prosperaram também! Como eles eram craques em matemática e física e química e essas coisas, eles conseguiram convencer seus governos a investir seus dinheiros em máquinas grandes e complicadas, que poderiam fazer coisas superbacanas (tipo descobrir como funciona o universo). Assim, os nerds podiam ser estranhos e, além disso, ajudar a sociedade de pessoas normais a viver uma vida mais bacana e frutífera! Nada mal pros nossos amigos nerds!

As coisas começaram a mudar quando o computador finalmente ficou barato. Até os anos 1970, computadores eram enormes máquinas barulhentas e cômicas, que tinham o tamanho de uma sala inteira e levavam eras pra realizar cálculos simples. Só laboratórios ricos e importantes tinham computadores, vocês entendem. Aí, bem, descobriram como fazer um chip de silício. E descobriram como fazê-lo funcionar com uma tela de cristal líquido. E aí, um computador do tamanho de uma sala ficou bem pequenininho! Agora, calculadoras pequenas e baratas poupavam o dono da lojinha a ficar fazendo suas somas enfadonhas, e os engenheiros podiam passar menos tempo checando seus cálculos quilométricos, e mais tempo inventando coisas bizarras (como uma lata de sardinhas que pousa na Lua).
E quando todo mundo achava que os computadores estavam tomando conta da vida comum de todo mundo normal surge o primeiro nerd pop. Bill Gates, o dono da Microsoft e inventor do DOS e do Windows, convenceu toda a civilização judaico-cristã ocidental a comprar um (agora) barato e simples computador pessoal, porque seria superbacana ter uma máquina pra jogar paciência em casa! Maomeno na mesma época, outro nerd pop, Steve Jobs, populariza o seu Macintosh e, agora, todo mundo tem um computador em casa! Pouco a pouco, as pessoas se acostumam com traquitanas eletrônicas, controles bizarros e outras estranhices obviamente nerds.

Por que estou dando toda essa volta? Para mostrar pra vocês que os nerds, aqueles caras estranhos e fora de contexto, agora estão inventando máquinas superlegais que estão totalmente na moda! De repente, todo mundo tem um computador portátil, e um espertofone com acesso a internet rápida, e um vídeo-game modernoso que identifica seu movimento... Já que não podiam ser populares normalmente, os nerds forçaram sua popularidade, inventando coisas que todo mundo sempre quis ter, mas nunca estudou o suficiente pra fazer. Mas os nerds fizeram!! E agora, liderando a sociedade ocidental, eles se tornam populares, idolatrados e referências. Os nerds, finalmente, acharam seu lugar na sociedade: bem no meio dela!!
É claro, esse processo não foi da noite pro dia. Lá nos anos 1990, onde comecei minha história, só alguns poucos nerds entendiam de sistemas operacionais, disquetes de 3 ½ polegadas, capacidade de processamento. Vídeo-game, então, era coisa de exilado social, de fracassado. Aos poucos, entretanto, os nerds ensinaram aos normais, pacientemente, como jogar Sonic the Hedgehog, como colocar um ringtone personalizado no Nokia novo, como usar o Firefox pra acessar a internet, como pesquisar no Google e aprender as coisas no Wikipedia. Os nerds, agora importantes gurus da vida moderna, passaram a inspirar a geração desse nosso magnânimo Século 21, e todos entendem um mínimo de nerdês pra viver essa vida moderna metropolitana.
Finalmente, capitalizando o sucesso dos nerds, séries de televisão e filmes e músicas trouxeram, aos borbotões, a cultura nerds, que viveu escondida nas gavetas dos seus amigos estranhos e exilados. Se antes era coisa de nerd, hoje todo mundo entende as referências a super-heróis, a livros esquisitos com idiomas próprios, a séries espaciais com sabres de luz e religiões fodonas. O nerd, caro amigo, hoje é pop. Até aquele cara bronco e valentão que fazia bullying nos nerds antigos hoje manja um pouquinho de nerdês, e até se diverte assistindo aos Vingadores! O nerd precisou de algumas décadas, mas finalmente venceu! Finalmente agora tem amigos, dinheiro, mulheres e vídeo-games aos montes.

Há os nerds que se sentem recalcados, invadidos. Passaram a vida inteira se escondendo por serem nerds e, agora, todo mundo também é nerd. E ninguém nunca pediu desculpas pra ele!! Como assim? Mas, na minha opinião, somente o fato da civilização ocidental passar a gostar tanto de nerds a ponto de não ser mais estranho usar por aí camisetas do Lanterna Verde já é um grande passo nessa sociedade bizarra nossa. Hoje, espontaneamente, muito mais pessoas passam a usar o rótulo de nerd.
E você, caro amigo nerd, não precisa mais se esconder para ser feliz! A humanidade recebe você de braços abertos, oferece cookies e aulas de salsa! E até te dá de presente laboratórios caros! Desde que vocês nos deem mais alguns apps brilhantes e divertidos pra iPhone. Por favor, nerd. E aí a gente não enche você de porrada pra tomar o lanche do recreio. :D